sábado, junho 03, 2006

O Que é Salvação?

Esta é uma questão difícil de responder. Em qualquer lugar que abrimo o Novo Testmento, descobrimos que, de um ângulo ou de outro, a salvação está sendo explicada, apresentada e discutida. A salvação é o principal tema do Novo Testamento em todos os seus vinte e sete livros. Se compararmos e correlatarmos o conteúdo de cada um, veremos que o entendimento da salvação apresentado é uniformemente claro e quase unânime. A idéia transmitida pela linguagem da salvação não deixa dúvida alguma. Salvação sempre significa resgate de um condição de perigo e miséria para uma situação de segurança. Assim, no Antigo Testamento, lemos que Deus liberta Israel do Egito, Jonas do ventre do peixe e o salmista da morte (Êx 15.2; Jo 2.9; Sl 116.6).
Entretanto, no Novo Testamento, a salvação é apresentada como a libertação do pecado e de suas conseqüências. É a obra de Deus que se revela como Deus Trino, que é Pai, Filho e Espírito Santo, em uma distinção clara e pessoal, contudo, em uma unidade igualmente clara do ser e do propósito. O Novo Testamento é explícito ao deixar claro que o Salvador-Deus a quem ele proclama é Yahweh, o Senhor da aliança do Antigo Testamento. No entanto, é igualmente explícito ao apresentá-lo como Trino.
Os autores do Novo Testamento falam de suas próprias experiências de salvação como sendo a ação conjunta do Pai, Filho e Espírito Santo. Eles se estendem em suas explicações discutindo os vários aspectos desta salvação na esperança de ajudar os seus leitores a entendê-la melhor, e assim vivenciá-la de maneira mais plena. Aqueles que não enxergam isto não entendem o Novo Testamento.
A salvação no Novo Testamento tem três tempos: passado, presente e futuro.
É a salvação:
  • da culpa do pecado (o aspecto passado: já não estamos mais debaixo das penalidades do pecado)
  • do poder do pecado (o aspecto presente: o pecado não mais nos domina) e
  • da presença do pecado (o aspecto futuro: o pecado, um dia, não passará de uma má recordação).

A salvação, em outras palavras, é um processo contínuo que está incompleto no momento. Neste processo, os cristãos já estão salvos:

  • da ira de Deus (da retribuição judicial: Rm 5.9; 1Ts 1.10)
  • da morte eterna (Rm 6.21,23)
  • do domínio do pecado (Rm 6.14,18)
  • de uma vida de temores (Rm 8.15) e
  • dos hábitos impiedosos e imorais que querem nos controlar (Tt 2.11-3.6)

E, um dia, em uma realidade que tanscende este mundo, os cristãos serão conforme Jesus em corpo e caráter moral (Fl 3.20; 1Jo 3.2). Então, o pecado não mais estará para sempre.

No entanto, neste momento, nós, como cristãos, estamos perfeitamente conscientes de ainda não termos alcançado esse estado de felicidade. Vivemos com alegria no favor de Deus, e servimos e o adoramos com gratidão pela sua graça, e lutamos contra a pressão do pecado por meio da força que nos é concedida pelo Espírito Santo que habita em nós (Rm 5.1; 12.1; 8.5-14; Gl 5.16). Temos muitas razões para agradecer a Deus pelas recentes vitórias, mas, como Paulo, anelamos pelo dia em que a luta interior contra o pecado será uma coisa do passado (Rm 7.24; 8.23).

Desejamos e buscamos a perfeita sentidade, mas, neste momento, nossa busca excede a nossa capacidade de tê-la. Deus nos salva do pecado: estamos na salvação, mas ela não está em nós na sua plenitude. Os indícios da salvação já são nossos agora; a sua plenitude permanece no futuro.

Na salvação do Novo Testamento, Jesus Cristo, o Salvador, que é Deus e homem (Jo 1.14; Cl 1.13-20; 2.9) é a figura central. A salvação é por meio dEle, no sentido de que nosso perdão e justificação, reconciliação, aceitação, acesso, firmeza e comunhão com Deus (todos estes termos são usados) baseiam-se na sua morte como um sacrifício por nossos pecados - um sacrifício que garante aos cristãos que nunca mais estarão debaixo da condenação, nem serão destituídos da comunhão que agora desfrutam com o Pai e o Filho (Jo 5.24; Rm 8.32-39).

A salvação é também nEle, no sentido de que somos solidários com ele como nosso representante, que sofreu ao carregar sobre si os nossos pecados, e agora intercede a nosso favor, e também estamos em uma união vital e vivificadora com ele pela fé, por intermédio do Espírito Santo. Assim, ele se torna verdadeiramente o doador da vida, que nos anima a buscar a santidade de uma maneira completamente nova para nós (Rm 5.12-19; Ef 2.1-10; 4.20-24; Cl 1.27; 3.4). A vida natural é supernaturalizada à medida que o Espírito Santo nos apresenta a Cristo e reproduz em nós desejos, alvos, atitudes e modelos de comportamento que foram observados na perfeita natureza humana de Cristo quando estava na terra. Todos os cristãos, que relembrar a vida que tinham antes de sua conversão, podem indicar situações específicas nas quais as atitudes de agora são muito diferentes das que tinham antes de conhecer a Cristo.

J. I. Packer